Então caiu…
um tropeço e
estava gravemente quebrada.
Recolhi seu corpinho
da beira da calçada.
Lágrimas a correr
uma dor queimava.
Quis consertar.
A esperança de resgatá-la.
Mas já não adiantava,
não se escondiam as falhas.
Me contentei por um tempo
fingindo que não era nada.
Seus defeitos ignorei.
Ela ainda me acompanhava.
Isso é lixo – disseram.
E eu até concordava.
Mas como poderia deixar
ir embora quem amava?
Na leve lembrança, era só uma coisa,
entre tantas que me foram dadas.
Devia mesmo me livrar
e pegar uma nova da caixa.
Hoje, abrindo velhos armários,
encontro a boneca quebrada.
Nunca me livrei dela e nem vou.
Me surpreendo com o fato.
E se os defeitos que até eu odiei
eram o que me agradavam?
As falhas do seu corpo
eram a nossa história gravada.
Me lembravam dos dias juntas,
das brincadeiras, da farra.
Toda boneca com que se brinca
pode ser um dia quebrada
e – como a gente – se defeitos carrega,
eles também são as marcas
da vida que levara.
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Imagem retirada de: https://pedradosapato.wordpress.com/2011/02/28/a-boneca-quebrada/